A História do Mergulho e a Medicina Hiperbárica
O primeiro registro de uma doença reconhecida como decorrente do mergulho foi feito por Aristóteles no ano 300 a.C. Ele descreveu a ruptura da membrana timpânica em mergulhadores, hoje conhecida como barotrauma de orelha média a mais comum das doenças típicas do mergulho.
Relatos históricos descrevem atividades de mergulho desde 4.500 a.C. para a busca de pérolas, conchas, mercadorias e peças valiosas naufragadas e na sabotagem de navios inimigos – há descrições deste tipo de operação sob as ordens de Xerxes em 400 a.C.
Mas as doenças e lesões que certamente mataram e incapacitaram e até hoje ainda matam e incapacitam milhares de homens, mulheres e até crianças, não foram estudadas e identificadas até 1670, quando Boyle fez a primeira descrição do fenômeno descompressivo, demonstrando a formação de uma bolha de ar no humor aquoso do olho de uma cobra, em uma câmara de vácuo.
Ainda assim, quase dois séculos se passaram até que em 1841, Triger, um engenheiro de mineração francês, fizesse a primeira descrição dos sintomas da doença descompressiva, em operários de uma mina de carvão pressurizada com ar comprimido para evitar inundação.
Em 1854 Pol e Watelle, observaram que a recompressão aliviava ou mesmo abolia os mesmos sintomas. Mas foi somente em 1878 que o fisiologista francês Paul Bert publicou a primeira obra clássica desta área da medicina: La Pression Barometric, na qual demonstrou que os sintomas da doença descompressiva decorrem da formação de bolhas de nitrogênio nos tecidos e que o oxigênio, quando ventilado ("respirado") sob pressões atmosféricas elevadas é tóxico para o sistema nervoso central, provocando convulsões (efeito Paul Bert).
A Medicina Hiperbárica tem uma dívida eterna com a engenharia de mineração, pois, além de Triger, outro engenheiro enxergou mais longe que os médicos da época, que afirmavam que se "o mal era causado pela pressão, então não tinha sentido aplicar mais pressão como tratamento" e prescreviam compressas e ingestão de conhaque para os operários acometidos.
Foi o engenheiro inglês E.W.Moir que em 1889, supervisionando a construção de túneis ferroviários sob o rio Hudson, em Nova York, decidiu instalar uma câmara hiperbárica e de forma empírica recomprimir e descomprimir gradualmente todo operário que apresentasse sintomas de doença descompressiva. Com esta atitude, Moir reduziu a mortalidade no local de 25% para 1,6%.